“É sobre cuidar deste bonito lugar chamado Você”
O homem, um sujeito bem-apessoado, beirando os cinquenta anos, alto, espadaúdo, moreno claro, olhos negros e profundos, que emanavam, com frequência, certa agridoce melancolia, desceu lenta e cuidadosamente os degraus da íngreme escadaria que levava à Catedral de Nossa Senhora das Mercês. Ao chegar ao pé daqueles suntuosos degraus, parou e, absorto – mergulhado profundamente em suas memórias – olhou, perdido, para a vista da cidade, marcadamente barroca, que se descortinava à sua frente.
Era uma agradável tarde de outono naquela histórica cidade de Minas Gerais. No entanto, para Marcelo, se transformara no final de um deslumbramento, considerando os últimos tempos de sua vida. Acabara de sair de um casamento de 20 anos que ele considerava perfeito e para sempre, até bem pouco tempo, antes dessa viagem. E agora tinha que se adaptar à nova vida sem a esposa… sem o lar… sem o porto seguro.
E por que a Igreja de Nossa Senhora das Mercês… de Mercedes. Sim, Marcelo tornara-se, há muitos anos, devoto dessa Santa – um dos muitos títulos da Virgem Maria – pois nele tocara a história dessa santa: Mercê é uma palavra do português arcaico e significa favor, graça, benefício, perdão, indulto. Este último significado é relevante na história de Nossa Senhora das Mercês, pois significa libertação!
Para ele, que era profundamente místico, de uma religiosidade latente e que sempre se preocupara e se ocupara do autoconhecimento, tanto emocional quanto espiritual, quando aquele iceberg da separação bateu na proa de sua vida, por frações de segundos o leme dela não se perdeu… definitivamente não se quebrou. Não! Porém, ali ele se libertou!
Recordemos os fatos.
Certa noite, ao retornar do trabalho, assim que chegou a casa, trazendo em suas mãos algumas frutas (ele havia comprado umas maçãs para sua esposa). Ela adorava a fruta do pecado e ele, como sempre carinhoso e gentil com os desejos de Carol, nunca se esquecia de mimá-la com esses gestos.
Tudo acontecera inesperadamente. Fora como um raio que caíra em suas cabeças. Ou melhor, sobre a sua cabeça!
Pois bem, tão logo acabara de entrar, ainda no alpendre da casa vê várias malas dispostas lado a lado. Aquilo caiu como um tsunami em sua têmpora! O que significava aquelas malas ali, por quê? O que estava acontecendo?
Então veio a fatídica notícia. E chegou da forma pior ainda, pois Carla, ao descer do quarto e dele se aproximar, disse da maneira mais natural possível, mas incisiva:
– Estou indo embora. Vou para a casa de meus pais em Angra dos Reis. De lá faço contato para falar sobre nosso divórcio.
Ao ouvir essas derradeiras e inesperadas palavras, Marcelo afundou! Sim, caiu num precipício sem fim…foi caindo, caindo até sentir o chão sob seus pés sumir no fundo daquele poço infinito!
É importante registrar que ele sempre fora um esposo exemplar para Carla, disso tinha certeza. Contudo algo falhara. Faltara uma conexão, algum elo fora partido naqueles 20 anos para que tudo acabasse daquela forma… tão tragicamente triste. Mais uma vez confirma-se esta verdade: nada é para sempre!
Neste ponto, recorro a Pedro Arkab, um poeta das redes sociais que nunca mostra o rosto. Sua poesia se apresenta em frases curtas e singelas, mas que trazem mensagens lindas e de muita sensibilidade. Dentre tantas, tocou-me esta que faço como subtítulo desta crônica:
“É sobre cuidar deste bonito lugar chamado Você”.
Daí por que, voltando ao nosso protagonista, Marcelo, após esse doloroso momento, aprendera que não precisava de ninguém para ser feliz. Não. Definitivamente não. O maior abrigo de nossas Almas somos nós mesmos. Precisamos aprender isso já!
Sim, e ele aprendera isso duramente. Morrendo devagarinho, muitas vezes, para poder renascer, em outras, mais forte, mais resiliente, um novo homem. Uma nova pessoa. Na vida profissional, no trabalho, em casa, com a família, com amigos. Essa fora sua verdadeira e permanente escola – “SOMOS NOSSA GRANDE E ETERNA COMPANHIA!”
Assim, depois daquela catarse, ele se refizera e reconstruíra sua vida. E como sempre praticara, colocou em ação em seu novo dia a dia, a essência das palavras daquela belíssima canção de Oswaldo Montenegro:
EU QUERO SER FELIZ AGORA!
Em nosso abençoado e iluminado lar, no Duque de Caxias, que é bairro, nesta Cidade Verde, que é Cuiabá de Mato Grosso, na qual chove sem parar… aqui e agora eu entrego esta Crônica para o Universo e para meus resilientes leitores, às 11:36 horas deste 5 de maio.
Eu Sou Cleir Edson Poeta e Prosador na Luz